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Raimunda, Eu te Amo! | CRÔNICA#1

  • Foto do escritor: D IDEIA #aoseuredor
    D IDEIA #aoseuredor
  • 8 de nov. de 2018
  • 2 min de leitura

Atualizado: 21 de nov. de 2018


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Voltando da rua, decidi passar na padaria.

Parei o carro e antes de descer, alguém batendo no vidro.

Uma criança.

Baixei o vidro.

- Ôôô tio, me ajude comprando esse porta moeda aqui. 1 é 2, 2 é 4 e 3 é 5.

- Como é seu nome?

- Raimunda.

- Hummm :)

Antes de eu querer começar a falar, ela emendou:

- Compre aí vá, essa semana é os 15 ano de minha irmã, aquela ali de vestido rosa, ela já é mãe e de um menino de 2 ano.

Tentando formular alguma ideia, pergunto:

- Hmmm, e você tem quantos irmãos?

- Juntando tudo tenho doze, por parte de pai e por parte de mãe, mora todo mundo no mesmo lugar. Os de meu pai e os de minha mãe;

- E vocês moram aonde?

- Em Portão.

Mesmo bairro que eu.

Nisso eu já tinha descido do carro.

- E você tem quantos anos?

- Tenho 11

Ela suspirava, com cara meio de decepção.

E eu:

- O que foi?

- É que eu não vendi nada ainda.

Ela suspirava, mas, não perdia o sorriso, de jeito nenhum.

Criança, né?

Dei 5 reais a ela.

Pensei em algo pra falar, mas...

- Cuidado com essa história de filho viu, não é pra ter filho cedo não.

Nunca pensei que um dia fosse dizer isso pra uma menina de 11 anos.

Foi o que saiu.

- É, eu sei, eu tenho uma irmã que tem 28 anos e nunca teve filho. Vou ser igual a ela.

- Isso aí.

- Brigado tio.

Estendi a mão pra cumprimentar, ela ficou surpresa.

Pegou na minha mão e saiu correndo pro próximo carro.

Bateu no vidro.

Não baixaram.

E sumiu entre os carros.

Entrei na padaria, tinha até esquecido do que ia fazer.

Fiquei uns 5 minutos rodando, meio que sem saber onde eu tava, pensando naquela situação.

Tenho compulsão alimentar e diversas vezes, como por sentir falta de alguma coisa.

Naquele momento, não me permiti sentir falta de nada.

Resolvi ir embora.

Entrando em Portão, bairro que eu e Raimunda moramos, baixei o vidro.

Fui ouvindo os sons, vendo as pessoas. Muita gente na rua. É sábado.

Entrei no condomínio onde moro.

Silêncio, casas trancadas, muros altos.

Vim pro quarto, liguei o computador.

Daqui a pouco vou jantar e depois deitar. Ligar o ar condicionado e ver alguma coisa na TV.

Tem hora que nada parece fazer sentido.

Raimunda, esqueci de te dizer:

Eu te amo!








Autor(a): Marçal Passos Dutra (@marcaaal)


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